3 perguntas para Clara Vanali #4
A Clara é pura gentileza e uma das pessoas mais sensíveis que conheço. Ela é jornalista e minha amiga há mais de 10 anos, faz aniversário um dia antes de mim, escreve lindamente e tem uma produtora de conteúdo audiovisual, a Às Claras Filmes.
É daquela gente boa de conversar, sabe? Ainda mais se for para abrir uma garrafa de vinho e preparar uma comida gostosa. Ela escreve, também, a newsletter “Sobre os dias” e foi uma das minhas inspirações para começar esta news aqui ;)
1) Como é o teu processo de escrita para a news e para a vida? Você separa um tempinho para isso ou escreve quando dá?
Domingos sempre foram dias de ficar em casa pra mim. Prefiro os sábados de rua e os domingos de casa. E eu sempre aproveitava os domingos pra fazer um café da manhã mais demorado, assistir filmes, ler jornal...E a newsletter veio pra completar esses dias que são só meus. Este é um tempo em que eu sento no sofá com o computador, sem o peso daquilo ser um trabalho, e escrevo coisas que jamais poderia escrever em qualquer outro lugar. Me abro, não tenho limites de linhas, pego meu bloco de notas com alguns pensamentos que tive nos últimos dias e faço daquilo um texto que pode servir de identificação para outras pessoas. Não dou dicas de links porque acredito que já existam infinitas newsletters incríveis que façam isso com primor. Prefiro trazer alguma reflexão, inquietude e fazer daquele texto, um momento em que a pessoa vai se sensibilizar e pensar: "puxa, me sinto assim também! que bom que não estou sozinho nessa".
Mas confesso que não é um processo destemido. Eu escrevo aos domingos mas até terça-feira (dia de publicação da newsletter) eu fico revisitando o texto pra ver se não cometi erros de português, se algo ficou confuso ou se minha mensagem não foi clara. Ter uma newsletter é uma responsabilidade. É um lugar em que eu peço pras pessoas investirem o seu precioso tempo pra lerem o que eu escrevi. Elas poderiam estar fazendo qualquer outra coisa mas estão ali, comigo. Me sinto honrada mas também atenta a tudo o que vou dizer.
2) Qual é o teu livro preferido? E qual foi o livro que você mais gostou nesse ano?
Meu livro preferido da vida é "A máquina de fazer espanhóis" do Valter Hugo Mãe. Li numa época em que o escritor não era muito conhecido, e o livro também não. E me tocou profundamente. O Valter sabe escrever ficções com todos os sentimentos que envolvem a vida real. Não gosto de ficções que nos colocam muito distantes dos personagens, sabe? E nesse, ele conseguiu me fazer ficar do lado do protagonista, segurando a sua mão. A história é sobre um senhor de 84 anos que, após ficar viúvo, foi viver num asilo. E cada palavra que o autor utiliza para descrever a vivência naquele lugar é majestosa. Terminei de ler chocada. Como poderia um autor descrever perdas, sentimentos e raciocínios com tanta assertividade? Jamais me esqueci.
Já um livro recente que me acolheu foi "Se Deus me chamar, não vou", da Mariana Salomão. Quem conta a história é uma criança de 11 anos, com a maturidade de adulto, ao falar sobre solidão e os percalços da idade. É um livro pra ter de cabeceira e revisitar sempre. Extremamente sensível e triste. Mas de uma tristeza que inspira.
3) Você tinha um programa de receitas que eu amava! Tem alguma receita que você costuma fazer quando precisa acalmar o coração?
Confesso que a época do programa foi a fase que eu mais cozinhei. Testava sempre, mergulhava em livros de receitas e trocava muitas ideias com meu sócio na época, o Gabriel.
Depois que paramos o programa, acabei me dedicando pra outras coisas mas sempre muito fascinada pela boa comida. Amo sair pra conhecer restaurantes em São Paulo. Acho lindo a sociabilidade que uma garrafa de vinho provoca em pessoas reunidas numa mesa. Comer é cultura e partilhar uma refeição é das coisas mais generosas que existem. Adoro o que um alimento sozinho pode gerar. Uma mandioca, por exemplo. São inúmeros os tipos de pratos que você faz com ela - cozida, frita, empanada, de chips a escondidinhos. E a banana? Que você pode fazer pratos incríveis com ela como cartola, farofa, moqueca...as opções são infinitas.
E algo que, hoje em dia, me traz uma memória muito afetiva é fazer bolachinhas de nata quando vou pra casa dos meus pais, em Araçatuba. É um processo demorado, artesanal, em que cada bolachinha é cortada delicadamente da massa principal, e colocada no açúcar e canela pra, depois de ir ao forno, ficar extremamente crocante e levemente adocicada. No final, a receita rende um montão de bolachinhas que fazem a festa do café da manhã da família inteira. Tem coisa mais gostosa do que isso?
Ontem estava passeando com o Jaguara no fim do dia, já caía a noite e um senhor me abordou. Na verdade, eu passei por ele quando ouvi: “A gente tem que seguir com fé e coragem.” Olhei pra trás e sorri porque não tinha certeza se ele estava falando comigo. Então ele emendou num papo que não fazia sentido, até que disse: “A única coisa que ninguém tira da gente é o conhecimento.”
E aí, minha gente, eu fiquei assim 😯 porque se tem uma coisa que eu escuto TODO DIA na mentoria com a Chloé é isso: investe no imperdível, estuda, vá ler livros e artigos porque o conhecimento é a única coisa que ninguém tira da gente.
Resolvi trazer isso pra cá para lembrar que tudo pode dar errado de uma hora pra outra, a gente não tem garantia nenhuma de que vai ser um sucesso e, mesmo sendo um sucesso um dia, ninguém pode garantir o quanto isso vai durar. Além disso, as pessoas são falíveis (no sentido de serem passíveis de falha), as pessoas erram, as pessoas vão embora, enfim, tomara que não, mas TUDO pode dar errado e a ÚNICA coisa que, com certeza absoluta, vai continuar aqui (além do Jaguara) é o que eu sei. O que eu aprendi, o conhecimento que adquiri.
Repito por gosto: tomara que não aconteça nunca algo de ruim com ninguém, mas lembra disso. Invista em você, aprenda, cresça, busque a sua autonomia, não deixe a sua felicidade, o seu bem-estar na mão de outra pessoa. Investe no imperdível.
Um abraço bem apertado,
Manu